Hesperian Health Guides

Capítulo 13: A falsa promessa dos alimentos geneticamente modificados

WikiSaúde > Guia comunitário de saúde ambiental > Capítulo 13: A falsa promessa dos alimentos geneticamente modificados

Neste capítulo:


Stacked sacks labelled GE Miracle Maize. Feeding the Poor Better than Ever. Warning: This product may cause cancer, allergic reactions, and/or antibiotic resistance.

Tomates que não se estragam depois de serem colhidos… trigo e soja e milho que conseguem resistir a grandes quantidades de pesticidas… sementes que matam as pragas no solo. Nenhuma destas coisas é natural. E, no entanto, elas existem.

Estes novos tipos de plantas chamam-se alimentos geneticamente modificados (GM). Nem todas as pessoas concordam que estas novas culturas sejam saudáveis. As empresas que as produzem dizem que elas vão melhorar a segurança alimentar, ajudar a alimentar o mundo e, no caso dos biocombustíveis, acabar com a nossa dependência do petróleo. Outras pessoas dizem que elas são prejudiciais para as pessoas e para o ambiente. Independentemente daquilo em que você acredita, a agricultura actual, a futura, e a segurança alimentar para todos nós, estão a mudar com estas novas culturas.

A maior parte das culturas GM não dão produções maiores, melhor nutrição ou quaisquer outros benefícios de saúde que os seus inventores reclamam. E, até agora, as culturas GM não ajudaram os pobres ou resolveram o problema da fome. A maior parte das culturas GM foram inventadas para vender mais dos pesticidas e adubos feitos pelas mesmas empresas que produzem e vendem sementes GM.

Os alimentos GM oferecem uma solução técnica — sementes caras feitas pelo ser humano — para um problema social: a fome. Mas à medida que os camponeses se tornam dependentes da compra destas sementes e dos pesticidas e adubos de que precisam para produzir estas culturas, a fome aumenta, não diminui. Há menos segurança alimentar e menos soberania alimentar.

Camponeses resistem ao algodão GM
A man thinking.

Basanna é um camponês que cultiva algodão no estado de Karnataka, na Índia. Há vários anos atrás, quando as culturas GM eram novidade, ele foi abordado por homens da empresa Monsanto que lhe ofereciam uma nova variedade de sementes de algodão. Eles deram-lhe as sementes de graça, juntamente com adubo para ajudá-las a crescer. Disseram-lhe que regressariam de tantas em tantas semanas para inspeccionar a cultura e para pulverizar o seu campo. Para Basanna, isto parecia um excelente negócio. Ele teria uma colheita de algodão sem custos e a empresa faria a maior parte do trabalho.

Basanna não sabia que isto fazia parte de uma experiência da empresa Monsanto de modificação genética. Os homens da Monsanto vieram pulverizar pesticidas no campo regularmente, mas mesmo assim a cultura sofreu o ataque de várias pragas. Basanna espantou-se, pensando em que o tipo de algodão precisaria de tanto pesticida e mesmo assim não cresceria bem.

Em breve Basanna aprendeu que outros camponeses também estavam a produzir o novo algodão. E também parcebeu que a Associação de Camponeses do Estado de Karnataka não gostava do algodão ou da empresa que o promovia. Basanna foi a uma reunião realizada por estes camponeses para aprender mais.

Basanna compreendeu que o novo algodão precisava de mais produtos químicos do que ele tinha usado antes e que estes produtos químicos iriam diminuir a fertilidade do seu solo. E também aprendeu que este algodão podia não produzir muito mais do que o seu antigo algodão. Para além disso, Basanna ouviu dizer que ele não seria autorizado a voltar a plantar as sementes daquele algodão, porque a empresa era dona dos direitos sobre elas. Pior que tudo, inteirou-se que o pólen das plantas podia viajar com o vento e afectar as culturas dos seus vizinhos.Se as culturas dos seus vizinhos polinizassem este novo algodão, ele não seria autorizado a voltar a plantar as suas sementes no ano seguinte.

Quando Basanna se apercebeu de que o algodão GM era uma ameaça para a sua exploração agrícola e para toda a comunidade, tornou-se sócio da Associação de Camponeses do Estado de Karnataka. Em conjunto, milhares de camponeses criaram um plano para dizer ao mundo o que eles pensavam do algodão GM. Planearam uma actividade e depois, no dia antes de se encontrarem, enviaram uma carta para os jornais de todo o país que dizia:

Três campos em Karnataka vão ser reduzidos a cinzas no sábado. Os activistas já contactaram os donos destes campos para lhes explicar que medidas serão tomadas e quais as razões para tal, e para lhes dar conhecimento de que nós vamos cobrir quaisquer perdas que eles sofram. Sábado ao meio-dia, milhares de camponeses vão ocupar e queimar os campos em frente das câmaras de filmar, num acto anunciado de desobediência civil aberta.


No dia seguinte, eles fizeram o que tinham prometido. O primeiro campo queimado pertencia a Basanna. Ele apoiou a queimada porque estava zangado com o facto de a empresa Monsanto não ter sido honesta com ele e com o facto de o algodão GM fazer tanto mal aos seus campos e aos seus vizinhos. Com o dinheiro que a Associação de Camponeses pagou pela queimada da sua cultura ele comprou sementes tradicionais de algodão e voltou a plantar a variedade que tinha funcionado tão bem para ele no passado.

A woman questioning.
Perguntas para discussão

  • Alguma vez conheceu um camponês que destruísse as suas próprias culturas? O que é que levaria um camponês, ou você, a fazê-lo?
  • Consegue pensar noutras formas de os camponeses de Karnataka mostrarem que estavam contra as culturas GM?
  • Quais são os benefícios de cultivar sementes GM “melhoradas”?
  • Quais são os custos “escondidos” de usar sementes GM?
  • Que mais é que você sabe sobre sementes GM?
A woman examines 2 seedlings, one small and limp, one large and strong.
Ao seleccionar as sementes da planta mais saudável, você pode ajudar as culturas da próxima época a serem mais fortes.


Reprodução de plantas tradicionais

Todos os seres vivos contêm partes muito pequenas chamadas genes. Os genes determinam como é que cada planta, animal ou pessoa cresce e aquilo em que se torna: de semente em planta, de ovo em galinha, de criança em adulto.

À medida que interagem com as condições, como o calor, o frio, o vento, a qualidade do solo, etc., os genes nas plantas determinam como é que as plantas vão crescer. Qualidades como a cor, a forma e o tamanho das plantas, se elas vão crescer depressa ou devagar, quando é que produzem flores e frutos ou que nutrientes têm e são determinadas pelos genes de cada planta.

Quando os camponeses seleccionam e guardam as maiores sementes de milho, depois de cada colheita, para plantarem no ano seguinte, o gene das sementes grandes é passado de uma cultura para a seguinte ao longo de muitos anos e o gene das sementes pequenas desaparece.

É assim que funciona a reprodução das plantas. É um processo lento de selecção e favorecimento do desenvolvimento das características que um camponês quer numa planta

How are GE plants different from traditional plants?

A modificação genética a é diferente da reprodução das plantas. Os cientistas usam métodos de laboratório para mudar os genes das plantas e dos animais de maneiras mais extremas do que acontece com a reprodução tradicional das plantas. Para obter a qualidade de plantas que eles querem, eles podem juntar genes de dois tipos completamente diferentes de plantas (como o arroz e o milho). Eles também podem misturar genes de plantas com genes de animais. É por esta razão que este processo se chama “modificação genética” ou “engenharia genética”. Como um engenheiro, um cientista de plantas “constrói” novos tipos de plantas e animais que nunca se desenvolveriam naturalmente.

As plantas GM não são simplesmente novas variedades com melhores qualidades. Elas são um novo tipo de planta que nunca existiu antes. As empresas gastam milhões de dólares todos os anos a inventar novas combinações, para conseguir por exemplo que as árvores cresçam mais depressa e tenham madeira macia para fazer papel; tomates que se mantenham frescos quando são guardados durante muito tempo; soja, trigo e algodão que consigam sobreviver a grandes doses de pesticidas; e animais como peixes e porcos que cresçam muito mais do que o normal.

O custo elevado das culturas GM

Produzir culturas GM é mais caro do que produzir culturas tradicionais de maneira sustentável. Em vez de guardarem as sementes da cultura anterior, os camponeses devem habitualmente comprar sementes GM cada ano, juntamente com adubos e pesticidas caros. As culturas GM também têm muitos outros custos escondidos. Elas podem ser fracas em nutrientes e podem destragar o ambiente. Antes de plantar culturas GM, tenha em conta outros custos, muitas vezes “escondidos”.

People talking together beside their crops.
Estas culturas precisam de produtos químicos para crescerem bem.
A empresa de sementes não nos autoriza a voltar a plantar as sementes que colhemos.
Eles não produzem mais do que as nossas variedades antigas... e muitas vezes produzem menos.
Se as pessoas gostam das variedades antigas, se calhar elas não vão comprar o que nós produzimos.



Esta página foi actualizada: 19 abr. 2024