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O que é a segurança alimentar comunitária?
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Para compreender que problemas uma comunidade tem para obter alimentos saudáveis suficientes, olhe para todas as coisas diferentes que fazem parte, em conjunto, da segurança alimentar.
Os alimentos contaminados por pesticidas, produtos químicos tóxicos e micróbios ou os alimentos geneticamente modificados (GM) (ver Capítulo 13), podem estar disponíveis, mas não vão criar uma dieta alimentar saudável e segura. Além disso, sem um espaço seguro para cozinhar e tempo suficiente e combustível para preparar a comida, as pessoas comem muitas vezes demasiados alimentos processados, o que pode trazer problemas de saúde.
Índice
10 Sementes
Esta actividade pode ajudar as pessoas a chegarem a acordo sobre quais são os problemas de segurança alimentar mais urgentes da sua comunidade e, depois, incentivá-las a fazerem mudanças que melhorem a segurança alimentar comunitária.
Tempo: 2 horas
Materiais: 10 sementes para cada grupo, canetas de cor ou marcadores, papel grande de cartaz.
- Dividir em grupos de 8 a 10 pessoas. Pedir a cada grupo para falar sobre as diferentes coisas que levam a ter uma segurança alimentar, como a produção de alimentos, o armazenamento de alimentos, o crédito, as lojas e mercados que vendem alimentos saudáveis, boa terra para cultivar alimentos, etc. As comunidades rurais que cultivam, caçam e pescam vão ter questões ligadas à segurança alimentar diferentes das pessoas das cidades. É importante conversar sobre as diferentes coisas que fazem a segurança alimentar no lugar onde você está. Num papel grande de cartaz, escrever ou desenhar imagens para mostrar os diferentes aspectos ligadosà segurança alimentar.
- Dar 10 sementes a cada grupo e pedir-lhes que decidam que aspectos da segurança alimentar estão a causar problemas na sua comunidade, pondo mais sementes onde há a maior parte dos problemas. Por exemplo: Há fome para algumas famílias porque o armazenamento dos alimentos é mau? Ou porque não há transporte para obter alimentos do mercado, ou não há mercado onde você possa comprar alimentos? Ou por causa de pragas nas culturas, solo fraco ou falta de água? Isto vai ajudar os grupos a identificarem as partes mais fracas da sua segurança alimentar. Diferentes pessoas na comunidade vão ter problemas diferentes. Garantir que os problemas de todos são ouvidos.
- Depois de cada grupo identificar os seus problemas mais urgentes de segurança alimentar, discutir quais os recursos locais que podem ajudar. Se a produção de alimentos é o maior problema, há pessoas com conhecimentos e competências para iniciarem hortas caseiras ou para melhorarem as práticas agrícolas? Se o armazenamento dos alimentos é o maior problema, que ideias podem levar a melhorá-lo? Se não há mercados, há maneira de abrir uma loja cooperativa para vender alimentos saudáveis? Ou para comprar ou partilhar um camião para trazer alimentos para a comunidade? Todas as ideias contam.
- Depois de discutir as possíveis soluções, cada grupo deve usar outro papel grande de cartaz para desenhar ou escrever as soluções que parecem mais práticas. Depois, dividir as 10 sementes entre estas soluções, pondo mais sementes perto das soluções que parecem mais possíveis de realizar.
- Depois de cada grupo decidir sobre os problemas e as suas soluções, juntar todos num grupo maior. Usar as 10 sementes outra vez ou votar apenas com mãos levantadas e escolher 1 ou 2 soluções mais populares. Discutir como pôr estas soluções em prática. Quem precisa de ser envolvido e que recursos a comunidade pode disponibilizar? Quando é que o trabalho pode começar? Definir objectivos de longo prazo, como por exemplo: “Passados 2 anos, ninguém na comunidade vai passar fome”. Além disso, definir objectivos de curto prazo, como por exemplo obter recursos comunitários em cada mês para abrir uma loja daqui a 3 meses ou preparar a terra para plantar no início da época agrícola.
Nutrição e segurança alimentar
Malnutrição seca: esta criança é só pele e osso |
Malnutrição húmida: esta criança é só pele e osso e água |
Quando as pessoas estão doentes ou malnutridas, elas são menos activas e menos capazes de produzirem alimentos, transportarem água e manterem uma casa limpa e um ambiente saudável.
Mas quando os alimentos saudáveis são acessíveis, produzidos de maneira sustentável e estão disponíveis nos mercados locais, as pessoas têm acesso a uma dieta variada e saudável.
Não comer bem pode enfraquecer o corpo e pode:
- Causar diarreia grave, sobretudo nas crianças;
- Tornar a varicela infantil mais grave;
- Causar gravidezes e nascimentos perigosos de bebés que nascem demasiado pequenos ou com deficiências como o atraso no desenvolvimento mental;
- Causar anemia, sobretudo nas mulheres;
- Tornar a tuberculose mais comum e com possibilidade de piorar mais rapidamente;
- Tornar mais comum a diabetes, uma doença causada quando o corpo não consegue usar o açúcar adequadamente;
- Tornar mais frequentes os problemas menores como constipações, que podem levar à pneumonia e à bronquite;
- Levar as pessoas com HIV ou SIDA a ficarem doentes mais depressa e fazer com que os seus medicamentos não funcionem tão bem;
- Tornar mais comuns e mais graves a fibrose pulmonar, a asma, o envenenamento por metais pesados e outros problemas causados pelo contacto com produtos químicos tóxicos (ver Capítulos 16 e 20).
As crianças malnutridas crescem devagar e têm dificuldade em aprender na escola, ou são demasiado fracas para ir à escola.
A malnutrição é um problema sobretudo para as crianças pequenas e deve ser tratada imediatamente. Para aprender mais sobre estes problemas de saúde, e sobre como é que a boa nutrição as pode prevenir, consultar o livro Novo Onde Não Há Médico.
A comida “de plástico” não é saudável
Quando as pessoas não têm terra para cultivar alimentos, vivem em cidades cheias de gente, não podem comprar alimentos saudáveis no mercado ou perdem as tradições culturais que as ajudam a comer comidas saudáveis, muitas vezes acabam por comer comida “de plástico” que contém pouco valor nutritivo. Muitas vezes, estas comidas são refinadas de maneiras que retiram os nutrientes, são processadas com químicos, são fritas em óleo e contêm demasiado açúcar ou sal. Em pequenas quantidades, esses alimentos podem não ser prejudiciais. Mas, quando as pessoas os comem regularmente, em vez de comerem alimentos mais nutritivos, eles não obtêm os nutrientes de que precisam.
À medida que as pessoas comem mais comida “de plástico”, é mais provável que elas ganhem demasiado peso e tenham problemas de saúde, como pressão arterial elevada, doenças do coração, trombose, pedras no pâncreas, diabetes e alguns tipos de cancros. É por isso que as pessoas podem ser subnutridas e terem ao mesmo tempo excesso de peso.
Quando a agricultura muda, a comida muda
Em todo o mundo, os camponeses estão a ser afastados das suas terras. Os campos que produziam alimentos para as comunidades locais produzem agora culturas para exportação. O controlo crescente das empresas sobre a terra, as sementes, os mercados e as maneiras como os alimentos são distribuídos não só prejudicam os camponeses como nos prejudicam a todos nós.
Está a tornar-se cada vez mais difícil encontrar alimentos saudáveis. Em muitas cidades, é mais fácil comprar comida “de plástico”, álcool e drogas ilegais do que frutas e legumes frescos. Isto trouxe grandes mudanças nas nossas dietas alimentares em apenas algumas gerações. Enquanto os nossos avós comiam sobretudo comidas preparadas com ingredientes frescos, as pessoas agora comem comidas demasiado refinadas e processadas que não têm nutrientes mas contêm muitos conservantes, corantes e grandes quantidades de adoçantes (açúcares), sal e gorduras. Por isso, embora muitos de nós comamos mais quantidade do que no passado, os alimentos que comemos são muito menos saudáveis do que dantes.
Mudança na dieta alimentar afecta a saúde dos índios americanos
Há apenas umas gerações atrás, os índios americanos tinham uma dieta saudável de alimentos que caçavam, cultivavam e apanhavam no mato. Quando a carne, os legumes e a fruta eram poucos, eles conseguiam apanhar “alimentos de sobrevivência” como raízes, sementes, cascas de árvore e pequenos animais.
Há cerca de 100 anos, o governo dos EUA forçou os índios a viverem em reservas e não lhes permitiu caçar ou pescar. Em vez de lhes dar alimentos a que eles estavam habituados, o governo deu-lhes sobretudo farinha branca, açúcar branco e gordura animal processada. Hoje em dia, muitos índios americanos ainda comem estes alimentos do governo. Em muitas reservas, a única comida disponível é a comida de plástico frita. Até mesmo as pessoas que não receberam alimentos do governo comem muitas vezes mal, porque têm poucas escolhas.
Como foram forçados a comer muitos alimentos de baixo valor nutritivo e como não têm os alimentos de que os seus corpos precisam, muitos índios americanos têm excesso de peso e sofrem de doenças do coração e de outros problemas de saúde relacionados com uma dieta pobre. A diabetes é agora uma das principais causas de morte entre os índios americanos.
Este problema levou alguns índios americanos a começarem a recuperar a sua cultura e a boa saúde trazendo de volta as comidas tradicionais. Eles estão a plantar milho, feijão e abóbora, a apanhar arroz selvagem, a pescar e a criar carne de búfalo. Richard Iron Cloud, um índio americano trabalhador de saúde da Nação Lakota, diz: “A mudança das tradições culturais, estilos de vida e hábitos alimentares levou ao aumento da diabetes. O regresso às maneiras dos nossos antepassados pode levar a doença a ir-se embora outra vez.”
As tradições agrícolas, como por exemplo produzir diferentes culturas em conjunto, podem garantir boa saúde e proteger a terra para as gerações futuras. |