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Comercializar os produtos agrícolas

Neste capítulo:

Para venderem os seus produtos, os camponeses precisam de boas estradas, transporte para os mercados e preços justos. Mudar as políticas do governo para apoiar os pequenos camponeses pode levar muito tempo. Mas há muitas maneiras de os camponeses se organizarem para terem preços justos, ao mesmo tempo que trabalham para ganhar mais apoio do governo.

Mercados locais e mercados internacionais

Muitas vezes, os pequenos camponeses vendem a um comprador intermediário e obtêm muito pouco dinheiro pelo seu produto. Os governos podem oferecer apoio para que as pessoas deixem de produzir culturas tradicionais, como milho e arroz, e em vez disso produzam culturas de rendimento, como açúcar, café ou cacau para os mercados internacionais. Mas os lucros das culturas de rendimento são incertos. Se o preço internacional cair, você pode não ter dinheiro e não ter nada para comer.

Para muitos camponeses, produzir culturas alimentares para os mercados locais e regionais pode oferecer uma fonte de rendimento estável.

Comercialização em cooperativa

People load produce into boxes and onto a truck.
As associações comerciais partilham o trabalho e as despesas de levar os produtos aos consumidores e reduzem os custos para todos os membros.

Uma maneira de garantir que há bons preços e segurança alimentar é formar uma cooperativa ou uma associação comercial com outros camponeses. Quando os camponeses vendem os seus produtos em conjunto, eles podem controlar melhor os preços que obtêm para as suas culturas e reduzir os custos de transporte e comercialização. A maior parte dos países tem normas sobre como formar uma cooperativa ou associação.

É importante trabalhar com as pessoas em quem você confia, para ter a certeza de que todos cumprem as suas responsabilidades. Também é importante acordar normas que dão a todos uma voz na tomada de decisões e uma partilha justa dos lucros.

Produtos de valor acrescentado

As empresas que processam alimentos e produtos agrícolas fazem muito dinheiro que podia ser feito pelos camponeses. Quando os camponeses processam as culturas transformando-as em produtos para venda, como por exemplo frutos secos, plantas medicinais secas e embaladas, compotas (jams) e geleias, mel, queijo, cestos, mobiliário, etc., a isto chama-se produção de valor acrescentado, porque você está a acrescentar valor às culturas que produziu.

Comprar o equipamento necessário para processar os alimentos e descobrir um mercado para os produtos de valor acrescentado pode ser difícil. Uma cooperativa pode torná-lo mais fácil.

Produtos especializados e certificação

As grandes empresas agrícolas são capazes de manter os preços baixos e ainda têm lucro, porque produzem muito, e muitas vezes têm o apoio do governo. Mas os camponeses que produzem em terrenos mais pequenos também podem beneficiar de programas que promovem produtos cultivados usando certos métodos.

Vários programas de certificação ajudam os camponeses a obterem melhores preços para os seus produtos. Um programa de certificação deixa o comprador saber que as culturas foram produzidas sem uso de produtos químicos, ou que o camponês obtém um preço justo. Dois programas para o mercado internacional são a certificação orgânica e a certificação de comércio justo. Antes de tomar a decisão de procurar certificação, tenha em consideração as mudanças que você vai precisar de fazer na forma como a sua exploração agrícola está organizada. Pense na quantidade de tempo e dinheiro que vai ser preciso para fazer as mudanças, se existe um mercado para os produtos certificados que você vai produzir e no que você vai ganhar por ter as suas culturas certificadas.

Certificação orgânica

Os produtos orgânicos são produzidos usando métodos sustentáveis, sem produtos químicos ou sementes GM. A certificação orgânica também requer que depois da cultura os produtos sejam mantidos separados dos alimentos produzidos com produtos químicos. Cada país tem normas diferentes para certificação. A maior parte requer que os camponeses mantenham registos de como produziram as suas culturas.

A bag labelled "CAFÉ. Orgànico Certificado."
As certificações orgânicas e de comércio justo ajudam os camponeses a ganharem mais dinheiro.

Certificação de comércio justo

A certificação de comércio justo é dada às cooperativas agrícolas ou aos trabalhadores agrícolas que pertencem a sindicatos. Para serem certificados como comércio justo, os grupos de camponeses mostram que usam práticas laborais justas (sem trabalho forçado, sem trabalho infantil e com salários justos para os trabalhadores) e que promovem boas práticas ambientais. Para se manter certificado, o grupo precisa de mostrar que a mão-de-obra e as condições ambientais melhoram com o passar do tempo. Há fundos próprios para grupos de camponeses que não podem pagar os custos da certificação.

A certificação de comércio justo é actualmente atribuída a pequenos produtores de café, chá, cacau, bananas e outras frutas frescas, e pode incluir outras culturas na altura em que você ler este livro.

Camponeses comercializam produtos em cooperativa
 Women standing at tables pack boxes of cacao.

Os camponeses da região de Talamanca, na Costa Rica, produzem cacau à sombra de bananeiras e outras árvores de fruto. No passado, eles vendiam as suas bananas e frutas nos mercados locais. Quando se aperceberam de que podiam ganhar mais dinheiro vendendo cacau no mercado internacional, muitos camponeses decidiram trabalhar em conjunto para o fazer.

Formaram uma cooperativa, a Associação de Pequenos Produtores de Talamanca (APPTA). No princípio, tiveram dificuldades em encontrar compradores para o seu cacau. Alguns compradores pagavam preços que cobriam os custos de produção, mas não cobriam os custos de processamento e transporte do cacau. A APPTA precisava de dinheiro para construir uma fábrica de processamento do cacau.

Depois de várias visitas à cidade para falar com compradores de cacau, os camponeses ficaram a saber que havia programas de certificação orgânica e de comércio justo que lhes trariam preços mais altos para as suas culturas. Como eles eram uma cooperativa de pequenos camponeses, eram elegíveis para a certificação de comércio justo. Se também tivessem a certificação orgânica, poderiam subir os preços o suficiente para gerar fundos para construírem a fábrica de processamento. Mas, embora eles não usassem produtos químicos, nenhum deles tinha dinheiro para ter a sua terra certificada.

A APPTA negociou com as organizações de certificação orgânica da Europa e dos Estados Unidos para sugerir que eles certificassem toda a cooperativa. A cooperativa garantiu que nenhum produto químico fosse usado e que cada exploração agrícola seguisse os mesmos padrões de qualidade e saúde. Vários membros da cooperativa foram treinados para visitar cada exploração agrícola da cooperativa e fazer relatórios sobre os seus padrões. A cooperativa só pagou uma taxa para a certificação, verificou ela mesma os registos dos camponeses e depois enviou apenas um relatório para cada uma das organizações de certificação.

Assim que a cooperativa foi certificada como orgânica e de comércio justo, eles receberam preços melhores. E conseguiram um empréstimo para construir a fábrica de processamento de cacau. Em breve estavam a vender bananas e outras frutas orgânicas a muito bons preços, tanto local como internacionalmente, e a fazer chocolate orgânico que vendiam na cidade.

Ao formar uma cooperativa, os camponeses e as suas famílias não só obtiveram melhores preços para os seus produtos, como também ficaram com um maior controlo sobre o seu trabalho e mais possibilidades para o seu futuro.


Esta página foi actualizada: 21 nov. 2024